sexta-feira, 30 de maio de 2014

E SAIBA QUEM ISTO LER


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“ E saiba quem isto lêr (porque lhe parecerá
por ventura cousa leve o desenho) que não ha hoje 
este dia debaxo das strellas cousa mais
 deficil e ardua que o desenhar.(...) E em tanto 
ponho o desenho, que me atreverei a mostrar como 
tudo o que se faz em este mundo é desenhar. 


> Leituras num banco de jardim | Citação 7
Francisco de Holanda (1517-1585), Portugal
in "Da Pintura Antiga", 1548, 
ed. Imprensa Nacional/CML, Lisboa, 1984


> Xisto | Azulejo
Azulejo hexagonal, séc. XVII
Índia (Bijapur?) (proveniente do Convento de Santa Mónica, Goa)
©  CRO|XISTO|AZ

7 comentários:

  1. Respostas
    1. Este texto de Francisco de Holanda é uma referência absoluta desde os meus tempos de estudante. O desenho, com papel e lápis, era então uma prática do quotidiano "deficil e ardua". Hoje, tornaram-se-me indispensáveis todas as formas de desenho, mas ponho à cabeça o desenho com a natureza. Creio que a Rosa também.

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  2. Aproveitei esta hora de maior calor para ler o fragmento do texto de Francisco de Holanda. Daqui a bocadinho, quando regressar aos jardins, vou levá-lo com muito jeitinho e delicadeza, para não escangalhar as palavras e não perturbar a natureza dos jardins.
    Bem haja por estes posts que, para mim, são mesmo leituras num banco de xisto muito especial.

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    1. É isso, teria que chamar-lhe o "Banco de Shanti", se não tivesse já outro nome.

      E a propósito desse teu pseudónimo indiano, descrevo a imagem deste post, que mostra um precioso azulejo indiano, (quase) contemporâneo do texto também precioso de Francisco de Holanda.
      Tem a particularidade de ter seis lados, como os módulo de um favo de mel, tendo pertencido a um conjunto ou padrão hexagonal do género "tapete". Outra particularidade deste azulejo diz respeito à sua origem indiana e islâmica (possivelmente de Bijapur) e ao facto de ter sido aplicado à maneira portuguesa num templo cristão da antiga Goa. Exemplares idênticos, só para teres ideia da sua raridade, podem ser vistos no Museu Nacional do Azulejo, em Lisboa, ou no British Museum, em Londres. Um azulejo também proveniente de Goa, com igual decoração vegetalista, foi cedido pelo Museu de Faro para integrar a recente exposição "O brilho das cidades", na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.
      Um dia destes vou deixar que toques nesta preciosidade, para que a possas "ver" com as tuas próprias mãos.

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    2. Mais uma vez bem haja, também pela descrição detalhada do azulejo. Estás a ver porquê é que eu digo que às vezes a felicidade é uma questão de opção? É preciso saborear as coisas mais simples da vida. As palavras de um amigo como tu fizeram-me sorrir. E é claro que vou querer tactear essa preciosidade.

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  3. Esta extraordinária citação de Francisco de Holanda está, a meu ver, muito bem ilustrada quer no desenho dos jardins do xisto (como se nota nas fotografias que vão sendo 'postadas'), quer neste belíssimo azulejo, todo ele desenho.

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